![]() |
---|
USHUAIA
"Os Ventos serão sua companhia"
Uma viagem como o Ushuaia não pode ser feita do dia para a noite, ou sem que tenhamos realizado um minimo de planejamento.
Assim a nossa viagem começou muitos dias e até meses antes da data da partida, onde pesquisas na internet e muitas perguntas aos amigos foram fundamentais para o sucesso da mesma,
Foram quase 11 mil quilometros em 22 dias, sendo 17 em cima da moto, pilotando em média mais de 700km por dia. Foram necessários 6 dias consecutivos para chegar ao nosso primeiro destino que éra El Calafate na Patagonia Argentina.
Ao longo do caminho fomos descobrindo lugares espetaculares, como Puerto Madryn e tantos outros mais.
Como o anunciado já fala, os ventos foram a nossa companhia e acreditem, eles realmente são um capitulo a parte.
Ir e retornar ao Ushuaia transmite a sensação que você podera ir a qualquer lugar, por isso se preparar é essencial.
Acompanhe agora como foi então o nosso dia a dia.
Preparativos
O primeiro passo foi planejar o roteiro. Como tínhamos apenas 22 dias para a viagem e no meu caso seria feita com a garupa, não daria para fazer um trajeto que exigisse muitos dias ou com grau de dificuldade elevada, como por exemplo percorrer toda a Ruta 40. Então a escolha foi fazer pela Ruta 3 mesmo.
Como saímos de Curitiba Pr, optamos em descer via Santa Catarina e Rio Grande do Sul, atravessar parte do Uruguai e aí cruzar para a Argentina. Também observei por quais caminhos iriamos passar, como travessias de navio, estradas de rípio (cascalho) e postos de abastecimento. Esse ultimo requer muita atenção se a sua motocicleta tiver baixa autonomia. Viajarmos com duas GSA1200 com capacidade de 33 litros no tanque e uma Super Tenere 1200 com 22 litros de combustível no tanque. Não tivemos problemas de abastecimento, mas fizemos as paradas exatamente onde seria necessário parar. Há trechos com mais de 200km sem postos de abastecimento ou se quer recursos.
Segunda fase foi nos certificar do que seria necessário levar, como ferramentas, acessórios e principalmente roupas adequadas ao clima.
Teríamos dias muito quentes e dias extremamente frios, chegando a temperatura na casa de -5 graus, com sensação térmica bem abaixo disso devido aos ventos que chegaram alguns dias com rajadas de até 118km/k. Sim, exatamente dessa forma se apresenta os ventos naquela região, o que permite aprendermos novas formas de pilotagem, que é pilotando literalmente de lado, fazendo curvas para a direita inclinados para a esquerda. Estranho, estressante, perigoso e requer certa perícia, mas depois de algumas centenas de quilômetros se torna até "divertido".
Por último hotéis. Como reservar com antecedência se corre-se o risco de em algum trecho você ter que abortar a viagem devido aos ventos?
Sim, essa viagem requer monitoramento constante dos ventos e fazíamos através de sites especializados, porque em caso de projeção de ventos muito fortes, o projeto requer aguardar para o dia seguinte.
Um amigo que já tinha ido me avisou. Ushuaia é uma viagem a parte, diferente. Temos que sair com o espirito preparado para imprevistos e também aceitar que talvez não consigamos chegar da primeira vez. Muita coisa pode acontecer, como quebra da moto, o clima mudar radicalmente de um dia para o outro, inclusive com queda de neve em pleno verão. Mas no nosso caso graças a Deus tudo foi absolutamente gerenciável, ou seja, todos os acontecimentos não impediram a nossa chegada ao destino, bem como o retorno.
Voltando aos hotéis, a escolha foi não reservar previamente, apenas programar no GPS uma série de opções e chegando nas cidades conferíamos em qual haveria vagas.
Confesso que é complicado, porque você chega muito cansado, pescoço duro de tanto segurar a cabeça por causa dos ventos, o corpo dolorido e ainda tem que buscar hotéis, mas faz parte de uma viagem imprevisível.

A Viagem
Nossa viagem deu-se inicio dia 28 de fevereiro de 2015, saindo de Curitiba na companhia do amigo Jairo Couto vindo de Goiânia.
No primeiro dia rodamos 857 km via BR153 até Santa Maria RS. Nesse período estava havendo a greve dos caminhoneiros e muitas barreiras nas rodovias, mas não foram problema. As barreiras aconteciam de tempo em tempo e as estradas eram liberadas novamente.
Em Santa Maria nos encontramos com o amigo e grande motociclista Renato Lopes, cuja experiência em moto viagens é extremamente alta.
Agradeço imensamente a ele pelas muitas dicas de roteiros e segurança na pilotagem com os ventos. Em Santa Maria também nos encontramos com o colega Sidney Ferreira que é de Curitiba e seguira conosco, mas havia saído um dia antes. Imagina se não estava ansioso (risos).
O segundo dia foi também bastante longo, rodamos 746km entre Santa Maria RS até Gualeguaychu já na Argentina. Nesse dia seguimos via Rivera Uruguai, fazendo cambio nessa cidade e também tirando a carta verde do lado brasileiro em Santana do Livramento.
Atenção, nos domingos e feriados há apenas uma opção na cidade para fazê-lo. Já dentro do Uruguai seguimos via Ruta 5 e depois a Ruta 26 logo após Tacurembó. Em seguida pegamos a Ruta 3 e 24 onde fizemos a travessia para a Argentina pela cidade de Fray Bentos.
A vantagem de entrar por ai é pelo fato de evitarmos a corrupção dos guardas argentinos que estão na Ruta 14. De Gualeguaychu adiante a Ruta 14 tem menos propensão de encontrar guardas que queiram lhe subornar, apontando irregularidades que nunca existiram. Acredita-se que isso ocorre pela proximidade com a capital Buenos Ayres.
Gualeguaychu é uma cidade de veraneio, muitos turistas vem usar as aguas do rio que corta a cidade, porém os hotéis são muito ruins e antigos e nada baratos.
No terceiro dia então seguimos via Ruta 14 mas passando por fora de Buenos Ayres. Optamos pegar as Rutas 5 e 33 até Bahia Blanca. Nesse dia rodamos 842 km.
Não há muito atrativos para se ver. É uma região de muito campo e agricultura.
Bahia Blanca já é uma cidade grande com cassinos e muitos hotéis, bares e restaurantes. Tanto na ida como no retorno ficamos no hotel Austral, o qual recomendo. Nesse hotel encontramos dois casais brasileiros retornando de moto do Ushuaia.
No quarto dia seguimos para a bela Puerto Madryn, já Patagônia Argentina. Foram 668km pelas Rutas 22, 251 e finalmente pegando a famosa Ruta 3 em San Antonio Oeste. Optamos não passar por Viedma para encurtar o caminho.
Em Puerto Madryn o ideal seria passarmos pelo menos uns 3 dias por lá. É uma bela cidade litorânea, com o mar extremamente azul. Lá próximo você encontra a Península Valdes onde é possível avistar as baleias no período de acasalamento. Também tem a cidade de Trelew. Mas nosso tempo não possibilitava isso, precisávamos seguir viagem. Então se estiver na mesma situação saia muito cedo de Bahia Blanca e chegue o mais cedo possível para dar tempo de dar uma volta pela cidade, não deixando de entrar no pier. A cidade também conta com excelentes restaurantes, bares e cafés. Também há muitas lojas de souvenir. Nessa cidade pernoitamos na ida e na volta, ficando nos hotéis Austral Yene Hue e Hotel Bahia Nueva, um ao lado do outro e em frente ao pier. A visão do local é espetacular. Recomendo ambos os hotéis, mas o Austral é mais caro, porém é claro também superior.
Quinto dia, estávamos programados rodas até Comodoro Rivadavia, mas como é uma cidade petrolífera, os hotéis sempre estão lotados e o transito também bem pesado. Então nos recomendaram rodar um pouco mais até Caleta Olivia. Foram então 516km pela Ruta 3. Nesse trecho a rodovia passa em alguns pontos bem próximos ao litoral, algumas vezes até margeando o mar e o visual é muito bonito. De um lado o deserto e do outro o azul do oceano Atlântico.
Sim, a paisagem muda completamente, a região fica toda árida e só se vê longas retas de estrada. Até aqui não se tem problemas de falta de postos de combustível e o vento já assopravam, porem pelas costas, assim a viagem rendia bastante.
Caleta Olivia no começo parece ser simpática, você encontra muita gente na rua praticando esportes, mas aos poucos você percebe que é uma cidade bem pequena com pouquíssimas opções de hospedagem e principalmente para comer. Se não tiver com reserva garantida de hotel é melhor ficar por Coronel Rivadavia mesmo. Nessa cidade ficamos no hotel Robert que também tem um restaurante e optamos também comer por lá. Existem algumas opções de lanches e restaurantes, mas muito caros pela qualidade apresentada. Os quartos desse hotel são bons e limpos mas é um hotel mau cuidado, elevador com problemas e recepção nada simpática. Se não ligar para isso é uma opção.
Nosso sexto dia é marcado pelo primeiro contato com os famosos ventos laterais. Foram 700km até Rio Gallegos pela Ruta 3. O frio também chegava e não era pouco. Confesso que mesmo tendo experiência em viagens de moto, foi um trecho tenso e que me deixou bem assustado. E olha que os ventos nesse dia estavam na casa de 68km/h e as rajadas chegaram em 85km/h, que não foram os piores que pegamos. Mas a experiência nesse sentido era nova e ao chegar em Rio Gallegos liguei para o meu irmão e falei para ele que apenas uma coisa poderia motivar alguém a vir para o Ushuaia de moto, seria a loucura!
Mas tudo na vida é aprendizado e também adaptação. Se você me perguntar se voltaria lá de moto, eu lhe afirmo que sim. Então apenas se prepare, mas não deixe de ir se esse for o seu sonho, o seu projeto, porque vale a pena.
Talvez você tenha se esquecido, mas lá no começo falei que eu estaria viajando engarupado. Sim, a minha esposa me acompanhava e acredite, "uma guerreira", porque não é tarefa fácil aguentar o frio e os ventos na garupa de uma moto. Nós pilotos ainda temos a distração da pilotagem e a segurança de estar segurando a moto pelo guidão, mas e a garupa como fica?
Então se você pretende levar alguém na garupa, o faça consciente do que ira encontrar pela frente e você também saiba que o esforço será dobrado com relação aos que vão sozinhos, uma vez que o peso da moto será superior e consequentemente o arrasto com o vento também maior.
No trajeto não há muito que se ver, alias, aqui começam os trechos com longas distancias sem postos de combustível. Mas programando as paradas da para encarar se a sua moto tiver uma autonomia de pelo menos 300 km. Há postos que ficam 220km de distancia entre o outro, assim não perca as paradas e programe-se bem. Com isso até para alimentar-se é mais complicado. Sempre leve barras de cereais ou frutas e água. As estradas não são desertas, existe um bom movimento, o que é bom pelo lado de uma emergência mas é ruim pelo fato que a cada ultrapassagem em um caminhão ou ônibus se torna uma aventura e requer técnica devido aos ventos que literalmente lhe empurram para fora da estrada. Quanto aos ventos um detalhe importante. Não são eles os maiores problemas, mas sim as rajadas. Essas chegam com velocidade de até 50% maiores que os ventos que sopram continuamente, e são essas que se lhe pegarem desprevenido, lhe jogam fora da estrada ou até contra outro carro que venha em sentido contrário. Infelizmente essas rajadas não tem aviso, apenas aparecem. Assim alerta total, nada de relaxar e curtir o visual. Viagem ao Ushuaia não é para isso nesses trechos.
Rio Gallegos é uma ótima cidade pela região onde fica, tem muitos hotéis e ótimos restaurantes, mas também muito frio e com muito vendo.Todas as arvoes da cidade são tortas ou deitadas. Recomendo o Hotel Austrau e o restaurante Barollo. Esse é excelente podendo degustar o famoso Cordeiro Patagônico ou o carré de cerdo.
Nosso sétimo dia de viagem foi muito tranquilo, foram apenas 305 km pela Ruta 5 até a bela El Calafate. Hoje nada de vento, um pouco de frio pela manha mas aos poucos a temperatura chegaria a 16 graus com céu azul. Aqui ficaremos por 3 dias, mas para nossa feliz escolha optamos em visitar nesse mesmo dia o famoso Perito Moreno, que é uma geleira enorme, tão grande que já foi chamada de "oitava maravilha do mundo". Uma parte dela fica do lado argentino e o outro do lado chileno. Para você ter ideia da dimensão da região, o parque que abriga essas geleiras possui 724 mil hectares e 356 geleiras. O Perito Moreno fica a apenas 80km de El Calafate, onde fomos é claro de moto.
O lugar é fantástico, onde a parede de gelo chega a 70 metros de altura. Tirando o fato da sensação de chegar "ao fim do mundo" no Ushuaia, visitar o Perito Moreno pode ser considerado o ponto alto da viagem, então não deixe de faze-lo.
Talvez você se pergunte por que fomos até Rio Gallegos e ai "voltamos" para El Calafate? Ocorre que a Ruta 9 não é pavimentada e o longo trecho de mais de 200km nessas condições seria complicado para fazer com garupa e malas. Mas é uma opção bem mais próxima, mas precisa levar combustível porque não há postos.
Nos dias seguintes deixamos as motos na garagem do hotel e aproveitamos para conhecer a cidade que possui uma série de atrações turísticas como passeios a cavalo, helicópteros, caminhadas, bike etc, além de ótimos restaurantes, bares, hotéis e muitas lojas de suvenires. El Calafate lembra muito Gramado, porém menor.
Ainda com as motos guardadas no hotel, no terceiro dia alugamos um carro e fomos conhecer El Chatén, que fica 215km mais ao norte, subindo pela Ruta 40. Trecho todo asfaltado e de uma beleza impar. No caminho muitos lagos de cor azul turquesa (são os lagos Argentinos) e muitas montanhas com os seus picos gelados.
O tempo estava chuvoso e algumas vezes o céu aparecia. Muitos ventos, inclusive nesse dia tivemos rajadas de até 117km/h. Na hora de alugar o carro muitas recomendações quanto aos ventos e algumas técnicas para dirigir com eles ou estacionar o carro, evitando a capotagem.
No caminho encontramos vários ciclistas viajando de bike. Parece inacreditável pedalar com esses ventos mas eles estavam firmemente fazendo. Uma verdadeira lição que tudo é possível tendo perseverança, atitude e uma vida saudável é claro.
El Chalten é um lugar diferente. Muito pequena com muito albergues e mochileiros. É a capital mundial do tracking. Na região fomos visitar a famosa montanha de Fitz Roy. Simplesmente espetacular. Vale a plena incluir na viagem.
No nosso nono dia de viagem, mais precisamente dia 09 de março, uma segunda feira, saímos então para o trecho mais desafiante da viagem. Seria um longo dia, com 892km pela frente, através das Rutas 40, 9 e 3 novamente até a fronteira com o Chile. Lá faríamos 4 passagens alfandegárias de entrada e saída, uma travessia de navio pelo Estreito de Magalhães e ainda 80km no famoso rípio Chileno.
Então saímos muito cedo de El Calafate, por volta das 4:30h, debaixo de um frio intenso chegado a uma sensação térmica negativa devido aos ventos.
Até Rio Gallegos fizemos o trecho todo no escuro, tomando cuidado com vários bichos que atravessam a rodovia e em um momento paramos em um posto de combustível para nos aquecermos. O frio e o vento estavam realmente judiando.
O dia começa a amanhecer lá pelas 8 da manha e nesse horário chegávamos na fronteira Argentina/Chile. Fizemos as duas alfandegas e seguimos ainda por asfalto até o Estreito onde embarcamos as motos em um navio. Levamos sorte, nossa espera foi de apenas 1 hora. No dia anterior chegou a ser de até 11 horas segundo informações locais e devido ao alto movimento e os fortes ventos que deixam o mar revolto e em alguns momentos impede a saida do navio. Nossa travessia foi tranquila, no barco encontramos uma série de brasileiros viajando de moto.
Depois seguimos viagem, a chuva voltava a cair e apesar de parecer mais uma condição adversa, ela propiciou que o rípio assentasse e nossa passagem pela estrada de chão foi bem tranquila na ida. Na volta a estrada estava seca e empoeirada, deixando o rípio "muito fofo" e ai as motos começam a dançar (risos). mas graças a Deus nenhum tombo.
Passado o rípio fizemos novamente outras duas alfandegas, que são feitas no mesmo prédio, dando saída do Chile e entrada na Argentina, fazendo as liberações pessoais e também dos veículos. O Chile é bem criterioso com o que você leva nos veículos, então frutas ou outro alimento "in natura" não é permitido. Se você for pego eles lhe multam e a multa é pesada.
De volta ao território argentino, chegamos à cidade de Rio Grande debaixo de muita chuva e frio. Um município de médio porte com grande movimento. Estávamos a 200km do Ushuaia, mas para nossa surpresa todos os postos da cidade estavam fechados para abastecimento. Acho que estavam fazendo algum tipo de protesto.
Nosso projeto de chegar ao Ushuaia naquele dia começava a ir por água abaixo, o que era uma pena porque queríamos comemorar o aniversário de um dos colegas chegando ao nosso destino.
Já estávamos começando a procurar hotéis quando um gerente de um dos postos nos chamou e disse que iria nos ajudar e autorizou que parássemos na bomba, abastecendo as três motos.
Já passava das 18 horas mas decidimos seguir em frente, porém naquele trecho com uma cautela especial, usando os ensinamentos que nos passaram ao longo do caminho. Atenção total nos motoristas de caminhão, seriam eles que nos passariam as informações sobre a possibilidade de gelo na pista, que é uma das características daquele trecho e que leva muitos motociclistas para ao chão. Como o sol se põe depois das 21hs teríamos 3 horas de luz natural, o que era importantíssimo por causa do gelo.
Então partimos atentos aos caminhoneiros que com os gestos das mãos nos apontavam sempre que estava “tudo positivo”. O trajeto foi tenso, o frio e o vento estavam muito fortes, a chuva não dava trégua. A viseira do capacete mesmo tendo o sistema anti-embassamento não resistia à umidade e a todo momento exigia uma limpeza. Apesar dessas dificuldades o trajeto é muito bonito tendo um grande lago e uma serra cujo visual é de tirar o folego.
Próximos às 21 horas chegamos finalmente no portal do Ushuaia, a emoção tomava conta de todos, afinal estávamos conseguindo completar o nosso projeto, o nosso sonho de chegarmos “ao fin del mundo” em uma motocicleta.
Mas as aventuras do dia ainda não haviam terminado. Após algumas fotos seguimos para dentro da cidade a fim de localizar um hotel.
Cansados, com fome, molhados e com muito frio começamos a perceber que os hotéis estavam lotados . A intensidade das rajadas dos ventos ficavam mais forte e literalmente tínhamos que nos agarrar às motos para não cairmos e com isso não conseguimos chegar e descer nos hotéis para procurar vagas.
A situação começava a ficar critica quando me lembrei de um ótimo hotel que havia visto na internet e tinha ele no GPS. Os preços eram um pouco altos mas àquela altura tudo que queríamos era um bom lugar seco e quente para descansar. Para nossa felicidade o hotel contava com um ótimo restaurante, com sistema de aquecimento e cardápio variado.
Então finalmente pudemos nos sentar, rir um pouco e comemorarmos o aniversário do nosso amigo Sidney.
A cidade de Ushuaia
Ushuaia além de turística, é uma cidade portuária e industrial, tipo uma zona franca da Argentina, localizada em uma região extremamente isolada. Teve um bum de crescimento muito elevado nos últimos anos, com muitas pessoas indo morar por lá e uma alta taxa de crescimento na frota de veículos. Com isso a cidade ficou em déficit com a infraestrutura adequada, seja em saneamento, pavimentação e organização das ruas.
Assim a cidade em si não é o forte a ser visitado, apesar de contar com excelentes opções de lazer como museus, restaurantes, bares, cafés e muitas lojas de grifes. Tem uma avenida central bem legal, bonita e organizada, onde tudo acontece por lá.
Mas o ponto alto dessa região são as belezas naturais em volta da cidade. A começar pelas montanhas cobertas de gelo que rodeiam o município, o nascer do sol é espetacular, o passeio de barco pelo canal de Beagle é imperdível. Nesse passeio você visita uma série de locais inacessíveis por terra e conhece os locais onde ficam pinguins, leões marinhos, focas e outros diversos animais marinhos.Mas uma dica quanto a esse passeio.
Ele acontece duas vezes ao dia, mas o melhor é pela parte da manha. O tempo no Ushuaia muda muito rápido e deixar para tarde você pode correr o risco de não fazer. Ocorre que se os ventos forem muito fortes, as ondas ficam muito altas e o mar agitado, com isso os barcos não tem autorização para sair. Isso faz com que os ingressos não sejam vendidos com antecedência. Então o negocio é acordar cedo, se informar e correr para o porto.
Mas se você quiser realmente registrar sua chegada “ao fin del mundo”, você deverá seguir até o Parque Nacional da Terra do Fogo. Lá você ira encontrar a famosa placa com o final da Ruta 3.
Se depender de assistência para a moto, foi inaugurada a pouco tempo uma loja da Suzuki, com uma oficina improvisada dentro da própria loja. Os atendentes são muito prestativos e trocamos o óleo das motos nesse lugar. Mesmo as motos não sendo da marca da revenda, nos foi dado atendimento com muita presteza.
Nosso retorno
Nosso retorno foi feito quase que pelo mesmo caminho, seguindo sempre pela Ruta 3. As condições climáticas da volta foram diferentes, assim conseguimos visitar alguns lugares ao longo do caminho e até ver uma grande quantidade de Leões Marinhos às margens da rodovia. Uma experiência incrível.
Conforme já havíamos programado, passamos por Buenos Ayres, onde ficamos duas noites e aproveitamos para descansar um pouco e fazer alguns passeios por essa bela cidade.
Fizemos então a travessia para o Uruguai através do Buquebus, colocando as motos dentro do barco e descemos na bela cidade de Colônia Del Sacramento. De lá seguimos para Montevideo onde almoçamos no Mercado do Porto, degustando um belo churrasco Uruguaio.
Nossa pernoite foi na belíssima cidade de Punta Del Este, mas como chegamos ao meio da tarde foi possível fazer um ótimo passeio pela cidade e ver o por do sol em Punta Ballena, um dos raros locais onde se é possível ver o por do sol acontecendo no oceano Atlântico.
De volta ao Brasil pelo Chuí, chegamos em Curitiba no sábado dia 21 de março, após quase 11 mil quilômetros rodados em 22 dias e com a graça de Deus nenhum tipo de problema conosco ou com as motos. Uma viagem perfeita.
Aproveito para registrar e agradecer a recepção dada na nossa chegada pela Equipe da Adrenalina Motos, na avenida João Negrão.
O Proprietário Eluisio organizou uma grande festa, chamando varios colegas motociclistas de Curitiba e região. Fomos recebidos com foguetes e champanhe. Realmente inesquesivel e fechando assim com chave de ouro nossa visagem.
As Motos
Fortes e guerreiras. Viajamos em 4 pessoas em 3 motocicletas, eu o único com garupa, sendo duas BMW GSA 1200 e uma Yamaha Super Ténéré 1200.
Todas elas com quilometragem acima de 30 mil km, a minha inclusive acima de 40 mil. A única preparação que tiveram foi uma boa revisão, troca dos pneus por novos mas de uso normal. A minha fui com um par de Tourance cuja durabilidade do traseiro foi de 14 mil km e as outras com Next e Anake III. O Anake pareceu desgastar menos, mas todo os pneus foram excelentes.
Ao longo do caminho apenas uma troca de óleo no Ushuaia em uma das GSA e na Super. A outra GSA estava com óleo sintético e não fez nenhuma troca, apenas uma reposição mínima de óleo na metade do retorno.
Uma Viagem de "Auto Descoberta"
O marco do motociclismo na América do Sul é a famosa “Mão do Deserto”, localizada no Deserto do Atacama no Chile. Para lá muito se dirigem a fim de registrar sua aventura. E realmente é um lugar encantado, aonde quem vai quer voltar novamente, apesar de ser apenas um lugar no meio do nada. A sensação é indescritível, porque afinal para chegar você atravessa o deserto mais árido do mundo.
Mas viajar para o Ushuaia é algo totalmente diferente. Muitas emoções se misturam ao longo do caminho, inclusive de arrependimento (risos).
Enfrentar dias e dias em cima de uma moto, rodando sempre quilometragens altas acima de 700km, enfrentar ventos que chegam acima de 100km/h, frio intenso, gelo, neve etc, são fatores que nos levam a pensar qual o sentido de fazer isso. Porque não ir então de avião?
Mas o motociclismo é isso mesmo, uma pouco de loucura, aventura, esportividade e auto desafio de fazer algo que poucas pessoas no mundo teriam coragem de fazer. Viajar de moto ao Ushuaia não tem o sentido simplemente de ir visitar/conhecer algum lugar que não novo, tem algo muito maior que isso.
As retas intermináveis que nos levam ao Ushuaia nos dão um grande tempo para pensar na vida, nos nossos projetos, nos nossos sonhos e qual destino estamos dando às nossas vidas!
Naqueles momentos você pensa em tudo e em todos. Aos poucos você vai se autodescobrindo, sabendo quais são os seus limites, até onde pode aguentar e afinal quem é você e como é a sua vida de verdade.
Então não ir ao Ushuaia quer dizer que você ainda não é um motociclista experiente e preparado?
Não, em hipótese alguma alguém pode dizer ou afirmar isso. A vigem ao Ushuaia não serve de nada para provar qualquer coisa à alguém.
No meu ver a viagem ao Ushuaia tem uma finalidade muito clara, que é você descobrir quem de verdade é, por isso uma viagem de "auto descoberta"..
Alcioni Marcio Fritz
![]() | ![]() | ![]() |
---|---|---|
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() | ![]() |
![]() | ![]() |